Santa Catarina Ruralistas repudiam curso da UFSC
Associações pediram providências ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, contra a realização do curso sobre reforma agrária que, segundo as entidades, tem cunho ideológico
Entidades rurais têm se manifestado contrárias a realização do curso de extensão “Reforma Agrária Popular, Agroecologia e Educação do Campo: alimentação e educação no enfrentamento ao agronegócio e às pandemias” pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Entre elas, a Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás) que enviou carta ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, e a Andaterra (Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra) emitiu nota de repúdio.
Segundo a Faeg, o curso “demonstra seu cunho ideológico e sectário, já em sua denominação, com os termos ‘enfrentamento ao agronegócio”, pontuou a entidade em nota, assinada por seu presidente, o deputado federal José Mário Schreiner (DEM).
A entidade destaca o papel educacional da UFSC, até mesmo na formação de profissionais ligados ao agronegócio, mas faz duras críticas ao curso, na qual considera “malfadado” e que cria fraturas sociais, e a universidade.
“Entendo que essa importante instituição ainda não se recuperou dos últimos infortúnios de seu passado recente, continua à deriva quando permite se aparelhar com propostas marginais e ilegais”.
Para Feag, o caminho a ser adotado pelo ministério da Educação é rever a criação do curso e cancelar as turmas já iniciadas. De acordo com a entidade rural, as atividades apresentam viés terrorista e afronta o direito de propriedade através de práticas criminosas de invasão.
Curso contra o agronegócio
A Andaterra foi ainda mais dura nas críticas à realização do curso, na qual considera o conteúdo “alinhado à ideologia criminosa do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)”.
“Trata-se claramente de um curso voltado contra o agronegócio e para a formação de agentes subversivos, fato que por si só tem grande potencial danoso para a sociedade brasileira a médio e longo prazo. É um curso voltado para enfrentar o agro nacional e, neste processo, ir implantando uma agenda comunista no campo”, destacou na nota.
Segundo a Andaterra, a universidade é uma instituição que deve usar o dinheiro para o bem público, e não para o benefício de certos grupos político-ideológicos radicais.
“A universidade deve promover a cultura, a formação profissional e intelectual e o avanço da ciência, e não a divulgação de ideologias políticas radicais que são abertamente danosas, ou mesmo genocidas”, afirmou.
Estimula o combate ao agro
Outra entidade rural que demonstrou insatisfação com a iniciativa da UFSC foi o Sindicato Rural da cidade de Jataí (GO). Em ofício enviado ao ministro da Educação, o presidente da entidade, Vitor Geraldo Gaiardo, adotou um discurso mais ameno, mas disse que o curso promove, de forma indiscutível, o enfrentamento e estimula o combate ao agro brasileiro, “o que é admissível”, pontuou.
Para Gaiardo, a discussão de temas com esse do curso, destoa do limite de ensino e aprendizado. “O curso desagua de forma indevida na instigação, no enfrentamento, no combate e na desavença social, o que nos traz grande preocupação”, destacou.
A deputada federal catarinense Caroline de Toni (PSL) exprimiu seu descontentamento pelas redes sociais. “Olhem o que estão fazendo com o dinheiro do pagador de impostos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)”, escreveu ela. A parlamentar prometeu pedir providências.
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O curso
O curso de extensão “Reforma Agrária Popular, Agroecologia e Educação do Campo: alimentação e educação no enfrentamento ao agronegócio e às pandemias” faz parte da 8ª Jornada Universitária da Reforma Agrária de Santa Catarina, uma realização do Geca (Grupo de Estudos em Educação, Escolas do Campo e Agroecologia) e a UFSC.
O curso tem 30 horas e as aulas foram iniciadas no dia 29 de junho e ocorrem, quinzenalmente, em plataforma virtual. Entre os temas: Paulo Freire e legado para a reforma agrária popular; educação popular na cozinha: reflexões sobre a interface entre educação popular e alimentação adequada e saudável; a produção de alimento saudável no projeto da reforma agrária popular; experiências dos assentamentos da reforma agrária no enfrentamento à pandemia do Covid 19: produção e distribuição de alimento e a educação escolar.
UFSC se manifesta
A UFSC informou que a programação do curso de extensão inclui palestras sobre educação, alimentação saudável, e produção de alimentos, que serão apresentadas por especialistas nessas áreas. “Como qualquer atividade de extensão, este curso teve sua programação aprovada pelo Departamento ao qual o curso está vinculado”. Neste caso, o de Educação do Campo.
Segundo a universidade, o curso de Educação do Campo tem sua coordenação, que analisa e aprova todas as ações de extensão que os professores promovem na área.
Sobre as manifestações das associações rurais, a UFSC informou que representam as opiniões de entidades e que a coordenação do curso de Educação do Campo e o Geca terão disponibilidade para esclarecer quaisquer dúvidas.